Carta à Björk





Björk, querida.

País tropical é uma praga. Quando inverno, a gente põe casaco e logo tira e logo põe de novo, porque aqui é o encontro dos cegos. Nada se atina. Björk, minha linda, venha salvar o Brasil do conformismo inanimado. A arte aqui teima ainda em bajular o velho. Paramos num século branco-e-preto. Os acadêmicos cismam em ninar arqueologias, vendo nisso os alicerces de não sei o que. Definitivamente, minha Björk, esteja o mais rápido possível por aqui. Nos salve. Aceitamos conferencias online, performances, jogar baralho, se quiser pode baixar num terreiro. Estaremos onde você se fizer.


Mas, Björk, minha cara, país tropical é uma praga, tome vacina, banho cheiroso, doril, xarope, faça-se imune às bagaceiras que aqui portam-se de modernidade. Aqui é o mundo da imaginação estagnada. Venha descoagular nossas idéias, sujeitas aos intempéries de um clima palavreadamente retrogrado. Traga até nós o sagrado silêncio, faça com que não tenhamos mais como submeter as ações às palavras. Nos surpreenda com o indizível. Björk, minha xamã, traga consigo o antídoto contra os infatilóides cheios de tiques axiomáticos motivados pelas frequentes masturbações intelectuais. Mate-os todos. Serei seu cúmplice. Pelo espontâneo gozo venéreo!!!

Björk, meu bem, precisamos de alguém (veja como minha súplica é rima) que nos dispa dos clichês de uma burca negra que finge o politicamente-correto e não revelam que a Iracema dos lábios de mel perdeu a integridade dos dentes e a boca fede a miséria, a mesmice, a merda... Iracemas dos lábios de merda! Eis que chega a vossa redenção: Björk!

Perdoe-me, Björk, querida, toda essa minha empolgação é causada pela tentativa de não ser como ela: Essa intelectualidade histérica, feia, de mandíbulas extravagantes (medo!) surda e mal vestida, que finge gostar.

Björk, os sinceros esperam por ti. Diretamente do mundo acadêmico - com minúsculas mesmo.

Ég elska þig
Ler Mais